Não costumo falar muito sobre política. Até gosto, de alguma forma, dessa nobre arte, mas a maneira execrável como é tratada por aqueles que a ela se dedicam profissionalmente faz com que eu sinta a necessidade de me distanciar, de não comentar, de me abstrair. Hoje abro uma excepção.
Se tivesse que me definir politicamente diria que sou um utópico de esquerda rendido ao liberalismo. Do ponto de vista religioso, como já deixei claro anteriormente, sou ateu. No fundo, a minha religião é o Benfica. Queria deixar isto bem claro, antes de prosseguir.
Esta semana fica marcada pela vergonha. O Dalai Lama visitou Portugal e nem o Presidente da República, nem o Governo, se dignaram recebê-lo. Foi Jaime Gama, Presidente da Assembleia da República quem representou o Estado português, numa breve recepção ao líder espiritual tibetano. É certo que Gama é o número 2 na hierarquia do Estado, mas será que a visita do Dalai Lama não merecia outro tipo de postura por parte do Governo e do Presidente da República? Quando cá vier o Papa é vê-los a todos a ajoelharem-se para rezar (?). Hipócritas! E ainda dizem que este é um Estado laico…
Por outro lado, veio um secretário de Estado (um tal que esteve por detrás do processo Nuno Assis, contrariando claramente os interesses portugueses) criticar duramente o alegado soco de Scolari, juntando-se-lhe também o Presidente da República no severo coro de protestos. Não pretendo defender Scolari, até porque concordo que não foi bonita a sua atitude. Mas que autoridade moral têm estes senhores para condenarem Scolari, mesmo antes deste apresentar os seus argumentos de defesa e as suas desculpas pelo incidente? Mais uma vez, não defendo a atitude de Scolari, mas não será preferível que estes senhores estejam calados em vez de virem pôr em causa os interesses nacionais ao exigirem a cabeça do seleccionador nacional? Não lhes peço que venham defender publicamente Scolari, mas pelo menos não venham dar mais um pretexto à UEFA para agir de forma dura sobre o técnico brasileiro. Porque se nós próprios, portugueses, através das mais altas individualidades da nação, o condenamos de forma tão veemente, não tenho dúvidas de que os senhores do feudo europeu do futebol não hesitarão em aplicar-lhe um golpe de misericórdia.
E dizem-se estes senhores patriotas, eles que nem tomates têm para enfrentar a diplomacia chinesa e receber o Dalai Lama, só porque não lhes convém. E se pensarmos que o drama de Timor aconteceu há tão pouco tempo e que na altura tantas foram as vozes com discursos bonitos de apelo à paz… Mas o Tibete é lá longe e não nos diz nada, não é? E já agora gostava de saber como reagiriam estes senhores se alguém lhes chamasse filhos da puta na cara. Ou será que tinham razão aqueles que há uns anos gritavam “putas ao poder, que os filhos já lá estão”?
sábado, 15 de setembro de 2007
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